segunda-feira, 4 de novembro de 2013

(1980) STARDUST MEMORIES


Um dos filmes mais criticados de Woody Allen, tanto pelos media como pelo público em geral, é porventura um dos seus filmes mais elaborados e dignos de ser revisto, dada a multiplicidade de significados e experiências que oferece. Realizado a preto-e-branco, é um mosaico complexo que aborda alguns temas recorrentes da sua obra, tais como a sexualidade, a morte, o sentido da existência e as dificuldades encontradas na procura da pessoa certa por entre muitas pessoas, todas insubstituíveis, por quem nos podemos sentir atraídos a vários níveis.
Woody mostra também  neste filme as pressões a que os cineastas podem estar sujeitos pelos estúdios e o mal-estar que pode surgir devido ao constante assédio pelo público e admiradores, que geralmente vêm juntamente com o sucesso. O filme pode ainda ser considerado como uma "homage" de Woody Allen a Frederico Fellini, e ao seu filme "8 e 1/2".
"Stardust Memories" não é um filme fácil, não é um filme para todos os que gostam sobretudo de todos aqueles "early funny ones", facto com que aliás Woody brinca no filme, num momento de comicidade extremamente bem conseguido. Mas é uma obra que, segundo penso, tem um enorme nível de relacionamento com as próprias experiências e sensações do realizador na altura, e que sem dúvida merece ser visto, revisto e apreciado por todos os que gostam de Woody Allen e da sua obra.

Além de tudo o já mencionado, este filme tem também, para mim, um dos momentos mais bonitos da história do Cinema. O modo como Woody conjuga a experiência de um momento que muitos de nós já terão vivido com a música de Louis Armstrong, com a fotografia e a narração, é indicador, a muitos níveis, de uma sensibilidade tocante. Ora espreitem:


1 comentário:

  1. Viva João,

    Uma óptima mini-critica, que toca nos pontos essenciais não só deste filme, mas do cinema em geral que o Woody produz.

    O trecho que reproduzes no vídeo tem a particularidade fazer nascer um momento que se pode definir como de felicidade plena a partir de uma rotina banal do dia-a-dia - inclusivamente começa com a personagem dele sentado à mesa, a comer. Aliás, esta capacidade para nos mostrar o que pode revelar-se de maior, para o bem e para o mal, destes pequenos pormenores "caseiros" e íntimos do dia-a-dia é uma das características mais evidentes da sua atenção ao comportamento humano - algo que o define como cineasta maior ao longo de toda a carreira.

    É muito interessante o tempo que a câmara se demora fixa na Charlotte Rampling, numa substituição daquilo que será o ponto de vista do Allen, e o modo como ela reage e esse elogio, distraindo-se da leitura e exibindo o agrado natural de quem se sente amado. Vintage Woody!

    Pronto, já fiquei com vontade de tornar a ver o filme - do qual já não me recordo de praticamente nada.

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